TTWW-17-P - O que é uma "palavra fútil", afinal? Um estudo da palavra que Jesus disse.
- erpotterpodcasts
- 17 de ago.
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Jesus disse: "Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo.". Lembro-me de me perguntar, quando era miúdo, se há um número limitado de palavras atribuídas a cada pessoa, uma quota que esgotamos ao longo da vida. Nesse caso, deveríamos ter mais cuidado em como utilizamos o saldo da nossa conta, como se estivêssemos a viver com um rendimento fixo, e olhando cuidadosamente cada euro que gastamos. Talvez você não leia a Bíblia, ou você só lê um versículo aqui e ali que aparece em um calendário ou um cartão de felicitações. Você pensa: "Este episódio de estudo bíblico não tem nada a ver comigo". Mas a Bíblia tem tudo a ver com todos, quer se importem ou não, e alguns versículos são de particular aplicação individual. Certifique-se de se incluir no que Jesus disse. O Dia do Juízo também se aplica a você. A palavra de Jesus não é palavra fútil.
Recentemente, eu estava lavando o patio traseiro da casa, e chegou a hora de fazer uma pausa para almoçar. Como iria saber onde retomar o trabalho à tarde? Isso pode ser um problema se você estiver a aplicar uma segunda mão de tinta branca sobre a primeira demão que você acabou de pintar numa parede branca. Quando olhei ao meu trabalho, não houve uma minima dúvida sobre quais as tábuas que tinha lavado e quais não tinha. Ocorreu-me que há momentos na vida em que há uma linha nítida entre o certo e o errado. Mas também, há momentos em que não é fácil traçar linhas claras. Eu pensei em uma palavra na Bíblia sobre a qual eu nunca tive uma convicção clara de como aplicá-la, e o problema é que é uma palavra tão simples. Em Mateus 12.36, Jesus disse: "Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo". Essa é uma afirmação simples, mas ao mesmo tempo muito séria. Sei como sou propenso a dizer algo sem pensar. Como é fácil fazer um comentário de que me arrependo no momento em que lanço a flecha verbal para o ar! «Cada palavra fútil», disse Jesus... mas nem sei ao certo o que constitui uma palavra fútil, em Inglês, “idle” ociosa.
Não é dizer palavrões
Eu sei que não é xingamento e palavrões. Nunca ouvi meus pais proferirem uma única palavra que eu considerasse até mesmo um palavrão leve. Tenho repulsa pela atual geração de artistas de palco e tela, compositores, celebridades e políticos para quem é impossível completar uma frase sem usar pelo menos um palavrão que é censurado na TV (como se não soubéssemos o que foi dito). Colocar uma sequência de asteriscos após a primeira letra de um palavrão é uma tentativa fraca de filtrar a natureza moral depravada que os autores revelam em suas mensagens de texto e postagens no TikTok. Quanto mais os eleitos se sentem obrigados a usar palavrões para afirmar a sua autoridade, menos respeito tenho pela sua autoridade. E, já agora, a credibilidade não é avaliada em decibéis. Uma afirmação não se torna mais verdadeira quando a dizemos em voz mais alta. A força de um argumento não aumenta em função do volume.
A Bíblia tem muito a dizer sobre o que sai da nossa boca. Tiago 3 descreve o poder da língua como sendo como o de um pequeno fósforo que pode incendiar milhares de hectares de floresta e destruir milhares de casas. A língua pode ser destrutiva e não pode ser domada. "a língua, nenhum homem a pode domar. É um mal irrefreável; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.." Tiago 3.8-9. "nem baixeza, nem conversa tola, nem gracejos indecentes, coisas essas que não convêm", diz Efésios 5.4; "Não dirás falso testemunho contra o teu proximo" é um dos 10 mandamentos. Hoje chamamos isso de calúnia e difamação. Vangloriar-se e fofocar são mais uma evidência de que a língua é um instrumento muito versátil para fazer o mal. Embora nem sempre consigamos controlar o nosso discurso, temos uma ideia clara do que é aceitável e do que não é. Mas uma "palavra ociosa" é um tipo de discurso que eu nunca poderia definir claramente.
"Digo-vos que, no dia do juízo, as pessoas terão de prestar contas de cada palavra descuidada que falarem" diz Mt 15.36 em algumas traduções em Inglês. "toda palavra descuidada" é uma tradução comum, mas "palavra ociosa" é a tradução literal usada no KJV, que diz "toda palavra ociosa os homens falarão, darão conta dela no dia do juízo". Se eu vejo você sentado e sem fazer nada, eu diria que está "ocioso". Esse é o significado literal da palavra grega no texto. Significa simplesmente "não fazer nada", "não trabalhar". Na prática, essa simples descrição dos factos pode assumir a natureza de um juízo moral. Palavras como "descuidado", "inútil" e "vazio" vêm à mente, e algumas traduções usam esses termos. Em nossas versões em português, “fútil”.
Quando é que uma palavra é "inútil"? Será que "descuidado" significa um deslize da língua, como quando eu digo algo antes de pensar? Mas, não é apenas a palavra individual ocasional, pois não? Embora o texto diga "toda a palavra" singular, o senso comum entende que o singular representa o conjunto de "palavras" faladas, como quando dizemos que o António é um homem de sua palavra. É um falar "vazio" o mesmo que conversa fiada? É isso que se entende por "falar tolice"? Sempre me perguntei em que compartimento devo colocar "palavras ociosas". São palavras que não fazem nada? Tem de haver um propósito prático em tudo o que digo? Deve cada palavra minha realmente FAZER alguma coisa?
A questão é importante, porque no versículo seguinte, Jesus diz: "Porque pelas tuas palavras serás absolvido e pelas tuas palavras serás condenado". CADA palavra fútil? Seja qual for a palavra fútil e ociosa, é motivo de condenação.
Luz do AT
Eu estava traduzindo o Salmo 120.2-3 que diz: "Senhor, livra-me dos lábios mentirosos e da língua enganadora. Que te será dado, ou que te será acrescentado, língua enganadora?" A repetição de "língua enganadora" levou-me a verificar no léxico o significado da palavra traduzida como " enganadora " (Heb: remiyah). Outra versão deste trecho diz “traiçoeira” (v. 2) e “pérfida” (v. 3). Em Salmo 78.57 a palavra é traduzida como "frouxo", "Desertaram e, como seus pais, o atraiçoaram, envergando-se como um arco frouxo." Uma outra versão diz “Mas tornaram atrás, e portaram-se aleivosamente como seus pais; desviaram-se como um arco traiçoeiro.” É esse o sentido da raíz da palavra, que é usada para descrever um arco que é deformado. Em inglês temos a mesma ideia, quando chamamos alguém um “straight shooter”, um "atirador certeiro", que é definido por Merriam-Webster como "uma pessoa que é honesta e direta em sua comunicação. Descreve alguém que fala o que pensa sem qualquer agenda oculta ou segundas intenções. Esta expressão enfatiza a integridade e a clareza." Nas 13 vezes em que a palavra remiyah aparece no AT é traduzida como enganoso ou enganador, traiçoeiro ou dolo, exceto em 4 versículos em Provérbios, onde faz um contraste com diligência no trabalho e é traduzida "ocioso". (Prov. 10.4; 12.24, 27; 19.15) (Tradução das palavras usadas nas traduções em Inglês.)
Será que a palavra tinha mudado de significado na época em que os Provérbios foram escritos? Sempre que a palavra era aplicada ao que um homem diz, a palavra significava engano e traição, as poucas vezes que era aplicada ao que um homem faz sem a devida "diligência", expressava a ideia de ociosidade, negligência ou preguiça. A verdade é que palavras podem mudar de significado ao longo do tempo. Em inglês, considere a palavra "let" em 2 Tessalonicenses 2.7 da KJV: "Pois o mistério da iniqüidade já opera; somente há um que agora o detém até que seja posto fora;" No Inglês de 1600, os tradutores empregaram a palavra “let” para traduzir “detém”. Hoje em dia "let", quer dizer exatamente o contrário de “deter” ou “conter”, e significa “permitir” “deixar”. Todas as traduções desde então dizem algo como: "Porque o mistério da ilegalidade já está em ação, mas aquele que agora restringe (em vez de permite) o fará até que esteja fora do caminho". (HCSB) Aparentemente, na altura em que os Provérbios eram compilados, as pessoas usavam remiyah "engano" para expressar a "ociosidade" em contraste com a diligência no trabalho.
O hebraico do tempo de Jesus
Quando Jesus disse em Mateus 12.36: Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo, Ele falou em aramaico, a língua comum da época. Durante o longo exílio na Babilónia, os judeus deixaram de falar hebraico, a sua língua nativa e adotaram o aramaico da Babilônia. São línguas diferentes, mas semelhantes, algo como as diferenças entre português e espanhol, talvez, ou russo e ucraniano. As Escrituras na sinagoga continuaram a ser lidas e recitadas em hebraico, mas não sabemos exatamente as palavras que Jesus falou a Seus discípulos. Além disso, os evangelhos foram escritos em grego, uma língua compreendida, lida e falada em todo o mundo civilizado da época. Os romanos conquistaram os restos do império de Alexandre, o Grande, que fez do grego a língua franca em todos os continentes. Ao mesmo tempo, os códices, cópias em papiro em formato de livro, substituíram as volumosas cópias em rolo de pergaminho usadas para documentos. Embora não alcançando efeitos na escala que a invenção da imprensa em 1500 teve na disseminação de materiais escritos durante a Reforma, os manuscritos em papiro tornaram a Palavra de Deus acessível em todo o império.
O contexto do NT
Quando Jesus falou de "cada palavra ociosa" (literal), a palavra aramaica que Ele usou certamente teria sido um cognato da palavra hebraica no AT traduzida como "ociosa" em contextos de trabalho, mas que é sempre traduzida como "enganosa" ou "traiçoeira" em contextos de fala. Será que o contexto em torno das palavras de Jesus nos ajuda a entender o sentido do que Ele disse? Será que "ocioso"(grego, argon "não fazer nada", "não trabalhar") tem o sentido de "preguiçoso" ou poderia ser "enganoso", que é o significado subjacente do cognato hebraico?
A terrível advertência de Jesus vem na sequência de um incidente que começa no versículo 22 de Mateus 12. Quando Jesus curou um homem possuído por demônios que era cego e mudo, os fariseus imediatamente anunciaram: "Esse homem Jesus expulsa demônios, por Belzebu, o príncipe dos demônios". Versículo 24.
Jesus, conhecendo seus pensamentos, começa sua resposta no versículo 25 e só termina no versículo 37. Começou por assinalar a insensatez do argumento dos fariseus, uma vez que nem Belzebu faria com que os seus próprios demónios fôssem expulsos por Jesus..."uma casa dividida contra si mesma não pode resistir". Então Jesus continua:
Portanto vos digo: Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. 32Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro.
33Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom; ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. 34Raça de víboras! como podeis vós falar coisas boas, sendo maus? pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. 35O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. 36Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. 37Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.
Jesus diz que há um pecado que é imperdoável, e é uma palavra dita contra o Espírito Santo. As palavras que os homens falam são como o fruto de uma árvore e revelam se a árvore é boa ou podre. (lit.) O que sai da boca é da abundância do que há no coração. Homens bons produzem coisas boas; homens maus produzem coisas más. Agora vem o versículo de que estamos falando: 36Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. 37Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.
Neste contexto, a palavra "ocioso" (fútil em PT) não é simplesmente "descuidado" ou "impensado", nem um lapso linguae que todos estamos propensos a cometer às vezes. Reconhecemos o mal dos palavrões, fofocas e conversas ociosas, e pedimos ao Espírito Santo que nos ajude a controlar nossa língua. A calúnia e difamação são obviamente erradas, mas Jesus disse que até mesmo a blasfêmia contra Ele pode ser perdoada. Quando é dirigida contra o Espírito Santo, porém, quando a palavra "ociosa" é mais do que preguiçosa ou inútil e carrega a conotação hebraica do OT, ela revela a natureza "traiçoeira" e "enganosa" do orador, "pelas tuas palavras serás condenado". Vários políticos e celebridades proeminentes aqui nos EUA vêm à mente quando digo isso.
Mas não pense que você esteja dispensado só porque seu discurso nunca é "traiçoeiro" ou "enganoso". OK, seu discurso pode ser meramente "descuidado", "frívolo", talvez "irrefletido" e "inútil" às vezes, ou seja, “fútil”, mas recorde o que diz Colossenses 4.6 "A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um." Avaliemos o nosso discurso por esse padrão. O nosso discurso é sempre com graça?
Se é, isso resolve a questão da palavra "ociosa", não importa qual o sentido que lhe damos.
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