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GMTM 16 -1973(3) - Quando Deus bateu a porta na cara

  • Foto do escritor: erpotterpodcasts
    erpotterpodcasts
  • 19 de jul.
  • 9 min de leitura



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Imagem gerada por IA



No meu blog anterior, descrevi uma viagem em que eu não sabia para onde estava indo. E isso era verdade em vários níveis. Naquela viagem de 800 quilômetros pelo oeste selvagem do Brasil, eu realmente não sabia para onde estava indo, nem mesmo onde eu estava, até. Eu era simplesmente um passageiro na viagem e confiava em Francisco para nos levar de um lugar para outro. Eu não estava em condições de dar sugestões sobre qual caminho seguir naquelas estradas secundárias, em grande parte sem pavimentação. Esse é um exemplo muito real da nossa caminhada de fé em Deus ao longo da vida. Deus nos informou sobre o nosso destino eterno final, e devemos confiar que Ele escolherá os caminhos que Ele quer que tomemos no caminho até lá. Ele sabe onde estão todas as paradas e todos os buracos lamacentos que precisaremos enfrentar ao longo da estrada da vida. Quando viajamos de avião, confiamos no piloto e em seu navegador para nos levar aonde queremos ir. Aprendemos a confiar em Deus para nos levar ao destino eterno certo? Se o terreno abaixo não parece bom, ou se entramos em turbulência, decidimos simplesmente parar onde estamos? Se não estamos satisfeitos com as circunstâncias em nossas vidas, dizemos a Deus: "Obrigado, mas acho que preciso assumir o controle agora"?

 

FINALMENTE UMA PORTA ABERTA

Fiz aquela viagem em fevereiro, mas aquela porta não estava aberta para nós no plano de Deus. Pensei em outras opções depois disso, mas nenhuma delas deu certo. Era meados de outubro e Jeff ainda não tinha dois meses quando vi uma porta se abrindo. Irmão Clovis,

Bro. Clovis and family in Canoas, RGS
Bro. Clovis and family in Canoas, RGS

que trabalhava como mecânico de avião para a companhia aérea brasileira VARIG, foi transferido para Porto Alegre, cerca de 1.200 quilômetros mais ao sul, no estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil. Ele queria organizar uma igreja lá, então Steve e eu fizemos uma viagem para vê-lo. Fui atraído pela oportunidade de interagir com a comunidade de imigrantes alemães que predomina nos estados do sul de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Fiquei tão impressionado que decidi levar a família até lá para conhecer o campo. Steve concordou em levar nossa família de avião no final de novembro, e nós procuraríamos um lugar para morar. Foi nessa mesma época que fomos informados pelo proprietário da casa que estávamos alugando em Santa Cruz que ele iria vender a casa e que teríamos que encontrar outro lugar para morar no final do ano, de qualquer forma. Essa foi mais uma indicação de que Deus iria nos mover.


December 1973, Rachel (6), Rick (almost 5) and Jeff (4 mos.) I was 27 and Abbie 26.
December 1973, Rachel (6), Rick (almost 5) and Jeff (4 mos.) I was 27 and Abbie 26.

Nossa família, agora com três filhos, pegou o Cessna e decolamos no dia 27 de novembro, como planeado, mas o tempo não estava como planeamos. Depois de uma hora e meia de voo, as nuvens nos forçaram a retornar. Mudança de planos. Coloquei dois pneus novos no carro, vendi US$ 50 para o Steve e peguei emprestado mais Cr$ 100 (US$ 15) dele, e partimos na manhã seguinte de carro para a viagem de 1.200 km e 2 dias até Porto Alegre.



Clovis morava em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, e procuramos uma casa nas cidades vizinhas, mas os preços eram muito altos e achávamos as casas muito primitivas. No estado de São Paulo, onde morávamos, as casas eram de tijolo e argamassa. Aqui no Sul, a maioria das casas era de madeira.

Encontramos esta casa e pagamos 2 meses de renda para segurá-la. Não chegamos a vê-la outra vez.
Encontramos esta casa e pagamos 2 meses de renda para segurá-la. Não chegamos a vê-la outra vez.

Finalmente encontramos uma casa perto do centro de Canoas com três quartos, um quintal grande e garagem. Era de madeira, mas, devido ao seu tamanho e disposição, concordamos em pagar um depósito de dois meses de aluguer para mantê-la até que pudéssemos nos mudar em janeiro. Paguei parte do depósito e prometi enviar o restante até 15 de dezembro, quando poderia trocar mais dinheiro em São Paulo. Uma vez nestas rondas, fui abastecer o carro e percebi que tinha apenas Cr$ 2 em dinheiro... USD 0,30. Ainda estávamos a mais de 16 quilômetros da casa do Irmão Clovis. Descendo as ladeiras e orando nas subidas, conseguimos voltar para a casa dele. Mas também estávamos a 1.200 quilômetros de SCRP, com muitas subidas e descidas no meio. Não anotei como conseguimos o dinheiro ou quanto, mas conseguimos o suficiente para voltar para casa. Não deve ter sido muita coisa, porque dormimos em nosso VW Squareback em um posto de gasolina no caminho de volta para casa, em vez de procurar um hotel, como fizemos na viagem de ida.

Our VW Squareback (Port: = Variante)
Our VW Squareback (Port: = Variante)

O carro era pequeno, com assentos semelhantes aos de um Fusca, mas nossa família ainda era pequena o suficiente para nos virarmos de alguma forma. Esta foi uma das muitas ocasiões ao longo dos anos em que tivemos que colocar em prática uma das instruções do apóstolo Paulo a Timóteo: "Tu, pois, sofre as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo" (2 Timóteo 2.3). Outras traduções dizem "sofrer dificuldades", mas naqueles tempos, nunca sentimos que estávamos sofrendo dificuldades, estávamos simplesmente fazendo o que tinha que ser feito e suportando o que fosse preciso. É isso que os soldados fazem.



Abbie e as três crianças dormiram no banco de trás, e eu no da frente, até por volta das 4 da manhã, antes de dirigir o resto do caminho para casa, onde chegamos por volta do meio-dia. Era 4 de dezembro, e comecei a combinar com um homem do SCRP que enviava caminhões regularmente à RGS para buscar cebolas. Ele se dispôs a levar nossas caixas e tambores de utensílios domésticos para lá, e marcamos a mudança para 2 de janeiro, depois do Natal e do Ano Novo.



Começamos a empacotar as poucas coisas que tínhamos em preparação para a mudança. No dia 8 de dezembro, meu 27º aniversário, eu tinha Cr$ 12… USD 2 e tinha uma semana para arranjar 140 dólares para completar o pagamento da entrada da nossa casa em Porto Alegre. Os presentes de aniversário que ganhei naquele dia refletiam nossa situação financeira na época: Abbie fez alguns lenços para mim; Rachel (quase 6 anos) embrulhou uma moeda de 10 centavos (menos de R$ 0,02); e Rick (quase 5 anos) embrulhou uma carteira velha e a encheu com pedaços de papel, que ele disse eram seus documentos. São momentos como esse que a gente percebe que a intenção é o que conta, porque o valor monetário dos presentes é insignificante. Numa escala maior, Steve me emprestou Cr$ 100 (R$ 16) para nos sustentarmos, algo que ele e eu costumávamos fazer de um para o outro conforme a necessidade surgia. Consegui chegar a SP no dia 17 de dezembro e enviar um cheque em Cr$ para o depósito. Mais um marco alcançado. Estávamos prestes a nos mudar!


Eldwyn Rogers e a sua familia. Missionaries muitos anos no Brasil, Paraguai e Chile. O filho mais velho, Mike, já estava casado e vivia nos EUA.
Eldwyn Rogers e a sua familia. Missionaries muitos anos no Brasil, Paraguai e Chile. O filho mais velho, Mike, já estava casado e vivia nos EUA.

 

A última quinzena de dezembro foi sequência de coisas sem intervalo para respirar. Em 12 de dezembro, recebemos uma carta da família Rogers no Paraguai a informar que eles chegariam naquele dia para ficar uns 10 dias. Eles partiriam de São Paulo para os EUA perto do Natal. Eles e a carta chegaram quase simultaneamente.


Uma festa de aniversário(s)

Os filhos dos missionários Rogers, Montgomery and Potter
Os filhos dos missionários Rogers, Montgomery and Potter
Philip Rogers, idade: 5 years and 364 days    Rachel Potter, idade: 6 anos 0 dias
Philip Rogers, idade: 5 years and 364 days Rachel Potter, idade: 6 anos 0 dias

No dia 18, fizemos uma festa de 6 anos para a nossa filha mais velha, Raquel, e para o Philip, o caçula do clã Rogers. Philip viria a ser missionário no Chile por muitos anos. Ele agora mora no Mississippi, e sempre que nos encontramos, falamos sobre aquela festa de aniversário. Ele insiste que ainda está traumatizado, tendo ficado emocionalmente marcado pelo fato de ter que dividir a festa de aniversário com a Rachel, e não ter uma no seu dia de anos. Raquel nasceu um dia antes dele e não houve festa no dia 19. Mas houve uma surpresa naquele dia.

 

TOC, TOC, QUEM ESTÁ AÍ?

Sem aviso, mais visitantes chegaram para se hospedar com os Montgomerys e conosco. Bill e Betty W. apareceram sem avisar. Lembro-me deles trazendo uma filha adolescente e um filho mais novo. Eram parentes de um pastor que conhecíamos nos Estados Unidos e tinham acabado de chegar do Peru onde visitaram missionários de sua denominação. Querendo "fugir dos males da América", estavam pensando em se mudar para o Brasil. Bill havia vendido sua construtora, mas teve que doar seu Cadillac do ano 1968. Devido à escassez de gasolina em 1973, o máximo que conseguiu por seu carro devorador de gasolina foi US$ 250.



De repente, havia 25 pessoas hospedadas em duas casas. Eram quatro famílias com 17 filhos, então as meninas ficaram conosco e os meninos e os dois casais visitantes dormiram na casa ao lado, com Steve e Jeannie. Depois, no mesmo dia em que chegaram, dia 19, o irmão José, membro da nossa igreja com 93 anos, faleceu. Seu funeral foi no dia 21.



Bro. José, 93 ---- Como a igreja não tinha sistema de som, o Irmão José foi sentado ao lado do púlpito. Ele foi batizado nas correntes do Rio Pardo à idade de 83. Alguns populares que assistiam gritaram,, "Vai matar o velho!"  Ele virou para o Pastor Steve, que preparou para batizá-lo, "Estão enganados. O velho já morreu!" uma referência à sua conversão a Cristo. (Rom. 6.6-8)
Bro. José, 93 ---- Como a igreja não tinha sistema de som, o Irmão José foi sentado ao lado do púlpito. Ele foi batizado nas correntes do Rio Pardo à idade de 83. Alguns populares que assistiam gritaram,, "Vai matar o velho!" Ele virou para o Pastor Steve, que preparou para batizá-lo, "Estão enganados. O velho já morreu!" uma referência à sua conversão a Cristo. (Rom. 6.6-8)

Depois, no dia do seu funeral, a neta de 4 anos de um membro da igreja sofreu queimaduras graves, brincando com álcool e fósforos. Ela morreu na manhã seguinte, em 22 de dezembro, e foi enterrada no domingo, dia 23. Apenas um ou dois dias antes, ela fora ouvida cantando para si mesma o hino: "Quando se fizer chamada lá estarei".

Quem disse "Feliz Natal"? Estando no hemisfério sul no verão, sabíamos que era melhor nem sonhar com um "Natal Branco", mas preferiríamos circunstâncias mais felizes.


O QUE NENHUM DE NÓS SABIA QUE ESTAVA NOS ESPERANDO À FRENTE

Os Rogers partiram para São Paulo no sábado, dia 22, para ficar com os Rosses e, enquanto isso, Bill e Betty decidiram que seria um erro se mudar para o Brasil. Ele pesquisou a possibilidade de comprar terras para criação de gado e descobriu que estaria competindo com homens que possuíam 700.000 cabeças de gado e compraram terras em lotes de 500 mil hectares. Isso estava fora do seu alcance.


Betty veio à nossa casa e ficou chocada com o nível a que existimos, com as mínimas necessidades básicas. É claro que quase tudo estava em caixas e tambores, aguardando a nossa mudança em duas semanas, e isso a impressionou ainda mais. O fato é que nosso jantar de Natal naquele ano se limitou a uma tigela de sopa, mas para nós isso não foi um problema.


Bill e Betty não resistiram e nos perguntaram por que estávamos no Brasil, vivendo naquelas condições. A denominação deles ensina que aqueles que professam a Cristo como Salvador podem perder a salvação se não se mantiverem fiéis até o fim. Expliquei que não estávamos no campo missionário para ganhar a salvação. Estávamos lá porque sabíamos que já éramos salvos. Estávamos simplesmente obedecendo a chamada de Deus em alegre resposta à Sua graça. Como eu disse antes, tínhamos sido comprados e nossas vidas não nos pertenciam. Tínhamos nos alistado como soldados e simplesmente obedecíamos à Sua liderança.


Depois do Natal, na quinta-feira, dia 27, Steve levou a família de Bill e Betty para São Paulo e nós levamos a bagagem deles no nosso carro. Steve voltou para Santa Cruz no mesmo dia, mas nós ficamos em São Paulo para nos despedirmos da família de Bill e Betty no aeroporto no sábado, dia 29. Assim que eles partiram, voltamos para casa, pois nos mudaríamos quatro dias depois, na quarta-feira, dia 2 de janeiro.


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Quando chegamos ao SCRP naquela tarde de sábado, ficamos a saber que Steve não havia chegado em casa na quinta-feira. Ele adormecera ao volante e bateu na traseira de um caminhão que subia lentamente uma ladeira na rodovia. Tinhamos passado direto pelo local do acidente e pela cidade onde ele estava internado. Anotei isso no meu diário naquele dia: " Talvez tenhamos que adiar a mudança por um ou dois dias ".


Fui ver Steve na tarde de domingo, 30 de dezembro, e na segunda-feira soubemos pelas enfermeiras que, embora Steve pudesse voltar para casa na quarta-feira (dia da nossa mudança), ele teria que ser levado deitado em uma ambulância, usando um colar cervical. Em vez de nos mudarmos 1.200 quilômetros no dia 2 de janeiro, Steve seria transferido 200 quilômetros para um hospital mais próximo para exames adicionais a fim de determinar a extensão da lesão no pescoço.


Será que Deus tinha acabado de bater a porta na nossa cara; a porta que estávamos convencidos de que finalmente havia sido aberta para nós?


Em 31 de dezembro de 1973, tudo o que sabíamos com certeza era que não nos mudaríamos em 2 de janeiro. Se nos mudaríamos ou não, dependeria do estado de saúde de Steve nos próximos dias.


E já tínhamos concordado em sair da casa em que morávamos.

 
 
 

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