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O Pastor Radical: Ele Faz-me Virar na Vida





Este episódio, baseado em Salmo 23.3, complementa o episódio anterior, que focou em Salmo 23.2.  Quando estudamos o texto hebraico da frase, "Ele refrigera a minha alma", descobrimos que isto implica muito mais do que pensamos.  Esta meditação foi desencadeada por um artigo do Rabino Pesach Wolicki.  [Artigo em Inglês]


 

 

 

No meu último podcast/blog, referi-me ao Salmo 23.2, onde Davi diz que o seu Pastor o guia às águas "tranquilas" e notei que o hebraico diz literalmente "às águas de um lugar de descanso". "Descanso" na Bíblia, no entanto, não é a ausência de trabalho ou problemas, mas uma dependência de Deus em todas as circunstâncias. O nome "Noé" significa "descanso" e sua vida era tudo menos livre de trabalho, e sua geração foi marcada pela violência, tanto assim que Deus teve de eliminar toda a raça humana da face da terra para restaurar uma medida de paz. Como mencionei nesse episódio, a palavra hebraica para a "violência" que encheu a terra nos dias de Noé é "hamas". A lição é que, mesmo nos tempos da pior desordem social, Noé demonstrou o descanso que Deus quer que cada um de nós experimente.

 

 Passando para o próximo versículo do Salmo 23, encontramos as palavras tão conhecidas: "Ele refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do Seu nome." Algumas traduções dizem, “Ele reconforta a minha alma”. Neste ponto, reconheço que devo o pensamento central desta meditação às palavras do rabino Pesach Wolicki, Diretor Executivo de um Centro de Compreensão e Cooperação Judaico-Cristã.  Recebo dele um artigo devocional cada dia, que inclui uma passagem do texto hebraico da Bíblia, com uma tradução em inglês e um guia de pronúncia para os leitores que não leem a escrita hebraica. Como é o caso quando ouço qualquer exposição da Bíblia, seja por rabinos judeus ou pastores evangélicos de renome, minha concordância com suas interpretações é baseada em minha própria compreensão do texto e no teor geral do ensino da Bíblia. Embora eu possa ter motivos para rejeitar as interpretações dos rabinos por razões óbvias que têm a ver com a instituição da Nova Aliança através de Jesus, sou um estudante de hebraico e estou bem consciente das complexidades da língua. Tenho de ceder ao conhecimento da língua original e ponderar cuidadosamente a forma como um rabino define as palavras e frases do texto original. A interpretação de Rabi Wolicki da primeira frase deste versículo foi muito esclarecedora.

 

"Ele refrigera a minha alma", diz nossa tradução, mas o rabino Wolicki ressalta que a forma verbal em hebraico traduzida como "refrigera" é encontrada apenas 12 vezes em todo o Antigo Testamento, e não é traduzida como "refrigerar" em nenhum outro lugar. O significado fundamental da palavra é "virar-se em uma determinada direção". Em Jeremias 8.5, lemos, “Por que, pois, se desvia este povo de Jerusalém com uma apostasia contínua". Em Jeremias 50.6, os pastores de Israel "fizeram [o povo de Deus] errar, e voltar aos montes”. Em Isaías 47.10, Deus diz a Israel:  "a tua sabedoria e o teu conhecimento, essas coisas te perverteram".

 

Nestes contextos, a conotação é negativa. As pessoas afastam-se ou são levadas na direção errada. Mas em Ezequiel 38.3-4 e 39.2, Deus usa esta palavra para dizer o que fará a Gogue, o governante de Magogue, que atacará Israel nos últimos dias. "Assim diz Yahweh, o SENHOR Deus: Eis que coloco-me contra ti, ó Gogue, príncipe e chefe de Meseque e Tubal, 4e te farei voltar, e porei anzóis nos teus queixos, e te levarei a ti, com todo o teu exército, cavalos e cavaleiros,." Ele repete esta profecia em 39.2 "e te farei virar e, conduzindo-te, far-te-ei subir do extremo norte, e te trarei aos montes de Israel.."

 

Mas o nosso contexto no Salmo 23 é muito diferente das passagens acima. Rabi Wolicki conclui que uma tradução melhor do Salmo 23.3 seria: "Ele faz virar a minha alma". O texto original apoia essa interpretação, mas e o contexto do Salmo e da Bíblia, em geral?

 

Este salmo está cheio de referências ao Senhor conduzindo e guiando: no versículo 2, lemos: "guia-me mansamente a águas tranquilas", e a segunda parte do nosso versículo 3 acrescenta: "guia-me nas veredas da justiça", literalmente, "por caminhos retos". Nós, como ovelhas, nos desviamos, e para sermos conduzidos por caminhos retos, é óbvio que o Senhor, nosso Pastor, tem que fazer virar as nossas almas, de muitas maneiras e em muitas ocasiões, mesmo depois de termos aceitado Sua oferta de salvação e tornamo-nos Seus filhos pela fé em Jesus.

 

É em João 10 no NT que encontramos Jesus a revelar-se a Si mesmo como o Bom Pastor, e em Lucas 19.10, na casa de Zaqueu, Jesus disse: "o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido". Mas a maioria das pessoas hoje rejeita a ideia de que estão perdidas. Elas não precisam ser resgatadas, elas não precisam ser salvas. O capítulo 15 de Lucas foca o quanto que Deus Pai está interessado em salvar os perdidos.

 

Este capítulo contém três parábolas de "perdidos". Vejo diferentes tipos de perda representados nestas parábolas. O texto fala de uma ovelha, uma moeda e um filho que estão perdidos, mas não se perdem da mesma maneira.

 

Vamos pensar na moeda que a mulher perdeu. Eu perdi meu canivete favorito no início deste ano, quando estávamos limpando o terreno ao redor de nossa casa. O meu canivete perdeu-se, mas isso é uma perda passiva. Com isso quero dizer que o canivete não se perdeu por si mesmo. A moeda da mulher não se perdeu por si mesma, foi ela que a perdeu. A alegria da mulher em encontrar a moeda perdida é representa a alegria no céu quando um pecador se arrepende, mas tenhamos cuidado para não esticar demais a aplicação da parábola. A moeda não se arrependeu, e Deus não deixou nada cair em algum lugar escuro do universo vasto de maneira que agora não sabe onde encontrá-lo. É o esforço da mulher em procurar a moeda que é um lembrete de que a descoberta do que está perdido tem tudo a ver com Deus e não tem nada a ver com a nossa parte. Só encontramos Deus porque é Ele que nos encontra a nós. Ainda estou à espera que o meu canivete perdido me encontre, mas não vou prender a respiração até que isso aconteça. A mulher diz: "Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu havia perdido.” Foi ela que perdeu a moeda, mas Deus nunca perde nada nem ninguém. No momento em que Jesus estava sendo preso, Ele assegurou a libertação dos Seus discípulos "para que se cumprisse a palavra que dissera: Dos que me tens dado, nenhum deles perdi.” (João 18.9) O ponto principal desta parábola é destacar a alegria que Deus experimenta quando uma pessoa perdida volta para Ele.

 

Mas nenhuma parábola ou ilustração na Bíblia pode expressar plenamente todas as facetas do nosso relacionamento com Deus, por isso há muitas parábolas relacionadas ao mesmo ponto. Creio que a parábola da ovelha perdida neste capítulo, tal como a da moeda perdida, está mal entitulada. Elas devem ser entituladas de Parábola da Alegria da Mulher ao encontrar a Moeda Perdida e Parábola da Alegria do Pastor ao salvar a Ovelha Perdida.


O Perdido passivo vs. O Perdido ativo

 

As duas parábolas apresentam dois aspetos diferentes de estar perdido. A mulher ENCONTROU a moeda; o pastor SALVOU a ovelha. A perda da moeda foi passiva... Foi a mulher que a perdeu, a moeda não se extraviou por si mesma. A ovelha, por outro lado, é uma perda ativa. A ovelha saíu do caminho, desviou-se. Talvez fosse por descuido, mas ela afastou-se por suas próprias pernas e por sua própria vontade. A ovelha perdida representa-nos melhor do que a moeda perdida. Mas, como a primeira parábola, esta parábola nos ensina que a salvação da ovelha depende dos esforços do pastor e não dos esforços da ovelha.

 

Mas, para completar a lição, tem de haver uma terceira parábola. A moeda não consegue andar; a ovelha pode andar, mas não pode arrepender-se. A terceira história, a Parábola do Filho Pródigo, acrescenta esse elemento à lição. Mais uma vez, há a ênfase principal na alegria do Pai quando o filho perdido é encontrado. Mas, ao contrário da ovelha que pode ter se afastado devido a descuido ou por estar distraída, o filho mais novo tomou uma decisão deliberada de abandonar a casa do Pai. Partiu por vontade própria. O seu regresso dependia da sua vontade de voltar para trás, motivada pelas circunstâncias de fome num chiqueiro. Essa reviravolta chama-se "arrependimento". Mas há mais uma personagem nesta parábola que representa outra forma de estar perdido. Jesus dirigiu esta parábola especificamente aos fariseus, representados na parábola pelo irmão mais velho. Nossas Bíblias costumam acrescentar o título A Parábola do Filho Pródigo, mas é também a Parábola do Filho Mais Velho. Ele também estava perdido. Embora ainda estivesse em casa, estava perdido em seu orgulho e sentimento de superioridade. Ele se gabava de sua relação próxima com seu pai, pelo menos externamente, mas seu coração estava longe do coração de seu pai e, ao contrário de seu irmão que foi rebelde, ele não evidenciava nenhum sinal de mudar a atitude do coração. O que era verdade para os fariseus de então, é verdade para os fariseus de todas as gerações desde então.

 

Em seu artigo, Rabi Wolicki cita as palavras de Deus no Jardim do Éden quando Ele saiu ao encontro com Adão. "Onde estás?" Deus perguntou, mas Ele sabia exatamente onde Adão estava. Ele queria que Adão fizesse a si mesmo a pergunta: "Onde estou eu, de facto?" Esta foi a pergunta que o filho pródigo finalmente respondeu por si mesmo na terra distante. "Aqui estou eu, a morrer de fome num chiqueiro."  Ele também percebeu onde ele não estava: "Até os escravos da casa do meu pai têm abundância de pão. Vou levantar-me e voltar para o meu pai."

 

Por estarmos perdidos por natureza,  e dado o contexto do Salmo 23, acho que a tradução, "Ele faz virar a minha alma", é muito mais poderosa do que "Ele refrigera a minha alma". Com desculpas ao rabino Wolicki vou dar mais um passo ainda na tradução deste versículo. A palavra hebraica para "alma" é "nephesh". A mais frequente tradução desta palavra é "alma", mas logo no segundo lugar encontramos a tradução "vida". Sugiro esta versão: "Ele faz uma reviravolta na minha vida". A minha vida precisa de mais do que um descanso. Minha vida precisa de mais do que palavras gentis e de consolo, por mais importantes que sejam. Minha vida precisa de uma reviravolta para que eu ande pelos caminhos da justiça (literalmente, em caminhos retos). E esse é o conforto oferecido pelo cajado que o Pastor usa para nos resgatar da beira do abismo quando vagamos e das areias movediças do pecado quando nos desviamos.  Em outro salmo, Davi cantou: "Também me tirou duma cova de destruição, dum charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos." Salmo 40.2

 

"Ele faz uma reviravolta na minha vida; Ele guia-me pelos caminhos retos por causa do seu nome." Estas últimas cinco palavras--“por causa do seu nome”--são extremamente importantes. Elas nos fazem lembrar que Deus não nos salva para sermos consolados e livres de problemas agora e para que escapemos da perdição eterna depois da morte. Ele nos resgata para demonstrar Sua bondade e graça, Sua misericórdia e longanimidade, para que nós, criaturas, Lhe demos toda a glória agora e para sempre. Por isso digo, “Meu coração enche-se de louvor, porque o SENHOR é meu pastor, e Ele não só refrigera minha alma, Ele dá uma reviravolta na minha vida.”

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